Hoje quero abordar um tema que tem sido minha principal atividade como consultor: a construção de ecossistemas de negócios. E, por favor, não confunda com rede de negócios.
Muito se fala nos ecossistemas de inovação, que tem como foco gerar conexões entre diversos atores, em especial startups, empresas tradicionais e organizações que promovem estas conexões como Acate, Distrito, ANPROTEC, Comunidade Open Innovation BR, e centenas de outras espalhadas por todo o Brasil, que realizam um trabalho sensacional.
Mas a construção de ecossistemas de negócios no Brasil, tem sido privilégio de poucas empresas, normalmente as de grande porte, com times com alta maturidade digital e com capacidade de investimento acima da média.
Mas porque as outras grandes empresas que possuem essa mesma capacidade de investimento ainda não colocaram na pauta dos principais executivos?
A resposta é simples e ao mesmo tempo complexa.
Estas empresas possuem recursos financeiros mas não possuem a maturidade digital para tanto.
Elas investem bastante em novas tecnologias, mas por este motivo, os projetos, na sua grande maioria, estão focados somente na digitalização da operação e não na construção de ecossistemas de negócios, que podem ampliar sua participação no mercado.
Mas o que é um Ecossistema de Negócios?
Posso dividir em dois estágios, a construção de um Ecossistema de Negócios.
1. NOVOS MODELOS DE NEGÓCIOS
Muitos empresários já perceberam que podem construir novos modelos de negócios que são diferentes dos que hoje a empresa atua.
Vamos a um exemplo básico e simples para entender o que isso significa:
Durante toda os ciclos da história do mundo dos negócios, desde a Revolução Industrial, até os anos 2000, as empresas construíram correntes de negócios, com cada elo perfeitamente identificado e executando a sua função com qualidade e resultados. Pelo menos, até o inicio do ciclo da transformação digital, a partir de 2020, quando foi acelerada sua implementação, que está trazendo à tona novos modelos de negócios.
Uma indústria fabrica produtos, tem uma rede responsável pela distribuição e na ponta da corrente, alguém (varejo) que vende toda a produção. Essa era a corrente de negócios tradicional, muito conhecida como Rede de Negócios.
Se olharmos para o segmento de turismo, tínhamos as agências de viagens, as operadoras e os fornecedores (cias. aéreas, hotéis, restaurantes, destinos). Hoje temos muitos outros atores inseridos nesta jornada do consumidor, e muitos negócios perderam peso ou simplesmente desapareceram.
Hoje com as novas oportunidades surgidas com a Transformação Digital, qualquer empresa, independente do segmento, pode fazer a ponte direta com os consumidores. Não estou falando nada de novo, certo?
Não. Não estou, mas porque 90% destas empresas não atingem os resultados esperados?
Porque continuam pensando com a “cabeça” de indústria. Ou de apenas um elo desta corrente.
E Porque isso acontece?
Porque os decidires estratégicos não possuem a experiência do varejo, ou dos outros segmentos desta corrente.
Repito sempre que a transformação digital começa com a mudança de mentalidade, dos líderes, dos gestores das equipes. E isso não acontece por memorando interno ou post de lançamento nas redes sociais.
É preciso ir muito além do básico, pois é este o ponto que quero destacar neste artigo, construção de ecossistemas de negócios vai muito além de colocar no ar uma loja virtual no ar e colocar seus produtos à venda online.
Passa pela entendimento das novas oportunidades de negócios, complementares a sua atividade principal. E no fundo, entender as necessidades do mercado, e oferecer novos modelos de negócios. E isso não se consegue sem ajuda de outros atores, com conhecimentos complementares e experiência prática nesta construção.
Uma indústria pode oferecer um clube de assinatura dos seus produtos, por exemplo.
Hoje existem milhares de clubes de compras. De calcinha feminina a bebidas. De livros a carros. Mas 99% destes clubes não foram criados pelos fabricantes dos produtos. O que só comprova o que estou afirmando neste artigo.
Se alguém, que não é da origem do negócio percebeu uma oportunidade, porque o fabricante não enxergou a mesma oportunidade?
Mas vamos fazer um pequeno resumo de algumas possibilidades?
Na venda direta:
- e-commerce próprio. Óbvio demais, né? mas poucos com resultados efetivos.
- participação em marketplace de terceiros, mas nunca como uma estratégia única.
- construção do seu próprio marketplace (mas leia o 2º estágio para entender melhor o que proponho);
- lojas virtuais no modelo franquia online, construídas para parceiros de negócios:
Exemplo? Uma indústria pode oferecer uma plataforma de vendas online para todos seus parceiros de venda, integrada ao seu estoque, com recursos que poucas lojas físicas tradicionais, conseguiriam investir.
- clubes de assinatura, o que garante uma receita recorrente, diferente do modelo de comércio tradicional.
Na venda indireta:
- franquias digitais: Um dos segmentos que mais cresce no mundo, mas que necessita de uma gestão muito profissional.
- Box digitais criativos e inovadores em pontos físicos diferentes dos PDVs tradicionais:
Se você vende produtos em lojas de moda tradicionais, porque não criar experiências inovadoras em locais diferentes? Assim, você atrairá novos públicos, despertará interesse e irá gerar novos negócios.
Existem dezenas de outras possibilidades e oportunidades, mas isso pode ficar para um bate papo ao vivo, não?. É só me convidar para um café (online ou presencial).
2. CONEXÕES COM OUTROS NEGÓCIOS
Agora sim, depois de construído o 1º estágio do SEU Ecossistema de Negócios, vamos trabalhar no pulo do gato da sua Jornada de Transformação Digital?
A maioria dos empresários fica 100% do seu tempo concentrado na sua operação, sem perceber as oportunidades de conexões com outros segmentos, que podem complementar sua atividade principal. Ou seja, unir forças para atender o mercado, que pressiona para a transformação do modelo de negócios das empresas. E é esta pressão que está potencializando a transformação digital das empresas. Ou tornando-a obsoleta e com futuro incerto.
Porque os aplicativos como iFood, Rappi, Magalu, Amazon e Ali Express são um enorme sucesso?
Posso comparar com alguns modelos tradicionais de negócios, como shopping center, já que o nascimento deles foram revolucionários na forma de se fazer negócios num passado não muito distante, mas hoje enfrentam enormes dificuldades na comparação com as operações online.
Os shopping center foram sucesso porque concentraram um mix de lojas de produtos e serviços, tudo num mesmo lugar. Com segurança, comodidade, e uma estratégia de marketing que atraiu os consumidores. Só que hoje, pelo perfil dos consumidores mais jovens, os shopping para se manterem saudáveis financeiramente, viraram um centro de entretenimento, com destaque maior para as praças de alimentação, áreas de lazer, e muitos serviços. Hoje o foco dos shopping é garantir experiências sensoriais para seus clientes.
Já as lojas de ruas perderam a atratividade para este público, por não evoluírem na questão experiencia. Continuam empilhando araras e prateleiras com produtos. O produto virou comodities e comodities se encontra em qualquer lugar, físico ou online.
Já nos novos modelos de negócios que podem ser incorporados neste ecossistema de negócios, podemos citar dois exemplos bem simples, para um melhor entendimento.
Uma empresa fábrica calçado, outra roupas, outra produz alimentos, bebidas e outra oferece pacotes de viagens, ou cursos. Para ficar só em exemplos reconhecidos por todos.
São produtos que fazem parte da jornada do consumidor. Porque não se unirem numa única plataforma para oferecer ao mercado, seus produtos?
Não é isso que os principais aplicativos do mundo fizeram com altíssimo retorno? Atraíram milhões de usuários, que usam com uma frequência muito superior, a qualquer outro tipo de negócio.
E com exceção da Magazine Luiza, que foi uma rede de varejo e hoje é, pra mim, o maior case de transformação digital brasileiro, todas os demais aplicativos de sucesso, não nasceram de dentro dos segmentos que atuam. O que comprova que o mundo dos negócios não será mais comandado pelas empresas tradicionais. Pelo menos por aquelas que ainda acreditam que seus 50/70/100 anos de existência é o que irá mantê-las no mercado atual.
Não vão deixar de existir, mas com certeza, seu tamanho será muito menor do que era nas décadas passadas.
Redução de custos totais de operação (pessoas, sistemas, investimento em marketing), são apenas alguns dos benefícios para comprovar a importância deste novo modelo de negócios.
Tive o prazer de atender uma barbearia que nasceu no epicentro da crise do varejo em 2016 e hoje possui 30 lojas e oferece uma gama de produtos e serviços complementares.
É hoje considerada a 2ª melhor rede de serviços de barbearia do Brasil, cobrando quase 3X mais pelo mesmo serviço do que a maioria das suas concorrentes.
O que a diferencia das demais? Além do seu serviço prestado com qualidade, surpreende seus clientes, com serviços e produtos, que não fazem parte do core de uma empresa tradicional. Tudo isso associado com uma estratégia de comunicação realmente eficaz. Isso atrai, conquista e fideliza os clientes.
Numa Jornada de Transformação Digital existem três elementos chaves:
1. PROMOVER novas Experiências ao Consumidor,
2. EVOLUIR os Processos de negócios (internos e externos),
3. CONSTRUIR Novos Modelos de Negócios.
Você percebe que a tecnologia não é o foco da Transformação digital?
A tecnologia é importantíssima e fundamental, mas não pode ser o centro da jornada da Transformação digital. Ela é o meio para isso acontecer.
E não posso concluir este artigo sem falar sobre o que vai realmente te dar os resultados desejados. Porque no papel ou no Power Point, tudo é perfeito e funciona, não?
Um Plano de Comunicação eficiente e eficaz.
Vejo muitos bons projetos que não vingam porque falham no principal. Não consegue comunicar, tanto internamente como principalmente com o mercado.
E não estou falando de “x” publicações por semana nas redes sociais. Mas este assunto fica para um próximo artigo.
E para concluir, uma provocação para quem coloca todos seus ovos numa única cesta.
Porque destinar 20% do seu lucro para terceiros se você pode investir este % na construção do SEU Ecossistema? Não quero dizer que não é importante sua empresa estar presente nestes marketplace consagrados, mas você precisa decidir:
“Quer ser protagonista ou coadjuvante no mundo dos negócios?”
Autor: Paulo Kendzerski
? Presidente do Instituto da Transformação Digital,
? Conselheiro do COMCET - Conselho Municipal de Ciência e Tecnologia de Porto Alegre,
? CEO da agência WBI On Life, desde 2000,
? Membro do Enterprise Europe Network,
? 30 anos de atuação no ambiente corporativo, desenvolvendo planejamento estratégico para empresas B2B e B2C,
? Especialista na construção de Ecossistemas de Negócios,
? Consultor em mais de 500 projetos de inovação/e-commerce,
? Prêmio "Campanha Destaque Google 2015”,
? Autor do livro "Web Marketing e Comunicação Digital“ (2 edições),
? coautor do livro "Impressão Digital. A tecnologia a serviço da Comunicação,
? coautor do livro “Gigante de Vendas.
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