As empresas brasileiras, que ainda não se preocupam com a Transformação Digital que está em curso no mundo todo, em breve irão perceber que, além das mudanças necessárias no seu modelo de negócios, terão que enfrentar, talvez o mais grave dos problemas, para sua manutenção no mercado.
O apagão de cérebros dentro das corporações.
Estou falando dos profissionais que “pensam” na evolução dos processos, adaptando a nova realizada dos negócios no mundo todo.
A cultura das empresas ainda é, o grande entrave para elas enfrentarem o Tsunami que é a Transformação Digital e isso só será vencido se tivermos disponíveis no mercado, profissionais preparados e capacitados para entenderem as necessidades de inovação das empresas, serem organizacionalmente ocupantes de cargos de decisão e terem conhecimento do que é necessário e como fazer acontecer a TD de forma mais tranquila e evolutiva.
Esse é o grande problema, que ainda passa desapercebido pelos empresários tradicionais, que ao não entenderem a urgência dessas adequações, continuam enfrentando os novos problemas com técnicas do século passado, literalmente.
Daniel Susskind, professor de Oxford e Harvard, que escreveu o livro “O futuro das profissões”, mostra exatamente isso. Um profissional que hoje perdeu o emprego, dificilmente irá retornar a atividade, na função que ele exercia, pois a mudança imposta pela tecnologia é muito mais rápida e irá eliminar esse posto de trabalho, sendo substituído por robôs, por exemplo, o que já acontece na Industria 4.0.
Esse profissional não terá tempo suficiente para aprender novas competências necessárias para se recolocar no mercado de trabalho. E isso, num primeiro momento irá gerar desequilíbrio na economia brasileira, pois entendo ser a mais atrasada na construção de políticas de recursos humanos, no âmbito governamental, responsável pela gestão pública, mas principalmente no meio privado.
Mas, logo, que a Transformação Digital tiver seu início efetivo nas empresas, iremos perceber que o mercado de trabalho irá substituir as funções das pessoas que desenvolvem operações passíveis de serem automatizadas e processos criados há vinte, trinta anos, por profissionais com cérebro focado em estratégias disruptivas para alavancar suas empresas.
Você acredita que Inteligência Artificial e Automação é que vão tornar sua empresa vencedora no futuro?
Desculpa desapontá-lo, mas esse pensamento é exatamente o início do fim do seu negócio.
Uma empresa é feita de pessoas, que aprendem a cultura do seu líder e os processos que permeiam o dia a dia de uma organização. O resultado são produtos/serviços que o mercado consome em maior ou menor grau de intensidade, graças ao marketing e a comunicação aplicada para criar desejos e transformar as empresas numa marca forte.
Esse “modelo” existe desde o início da Revolução Industrial e que hoje está no seu momento mais crítico, pois as novas gerações, quando chegam ao mercado de trabalho, tem postura totalmente diferente das gerações passadas, que ao iniciar sua atividade nas empresas, recebiam manuais com procedimentos e posturas que foram sendo padronizados ao longo do tempo.
Hoje um jovem ao ingressar numa empresa faz aquela pergunta que uma criança faz pro seu Pai quando confrontado: Porque? Porque isso é feito desse jeito?
E a resposta não pode mais ser: "Porque sim".
E é esse o desafio que quero destacar nesse artigo. A quase totalidade dos empresários não aceita esse tipo de questionamento, pois ele imagina que o sucesso do seu modelo de negócio está sendo questionado, quando na verdade, o que a nova geração se propõe não é “só” fazer diferente e sim, fazer com mais qualidade, mais rápido e de forma mais eficiente, obtendo vantagens competitivas num mercado cada vez mais disputado e globalizado.
E com o nascimento de empresas disruptivas que quebraram o modelo tradicional dos processos e cultura das empresas, essa necessidade passa a ser questão de sobrevivência. Isso se chama Transformação Digital.
Ele quer propor novas formas de pensar nas soluções dos problemas que as empresas enfrentam a séculos, mas devido ao “modelo” padrão adotado, é perpetuado dentro do ambiente corporativo, como se aquilo fosse a única forma de se fazer algo e quem questiona é visto com “maus olhos”, tanto pelos colegas de setor com pensamento tradicional, pelo RH e líderes.
Consumimos diariamente esse novo modelo, totalmente disruptivo, mas ao pensar no nosso negócio, na maioria das vezes, decidimos de forma analógica.
“Consumimos digitalmente, mas trabalhamos e pensamos de forma analógica”.
E posso citar inúmeros exemplos.
Hoje uma empresa investe num site moderno, responsivo e explora as redes sociais, buscando ampliar mercados através de uma comunicação de alto impacto no ambiente digital. Provavelmente você está pensando que sua empresa faz exatamente isso. Correto?
Mas no seu dia a dia, ela continua com um modelo de negócios igual há 50/100 anos, com horários de trabalho pré-estabelecidos que não “enxerga” os novos hábitos dos consumidores.
Quer um exemplo?
Todo mundo sabe, ou deveria saber, que 80% de todas as passagens aéreas e reservas de hotéis são feitas entre 18 e 24h.
Eu pergunto: Quantos hotéis você conhece que responde interações no site ou redes sociais nesse horário? Qual agência de viagem responde seu questionamento as 22h?
No estudo de Maturidade Digital das empresas, desenvolvido pelo ITD esse dado foi levantado. E o número é impressionante. 99% dos mais de 100 hotéis analisados não respondem os usuários, nesses horários. Se levarmos em conta os finais de semana, então fica ainda pior. Fica tudo pra segunda-feira.
O e-commerce tem um crescimento acelerado porque facilitou o acesso do consumidor aos produtos 24 horas por dia, não importando onde ele esteja fisicamente.
Na contramão desse movimento, as empresas tradicionais continuam com seu modelo de negócio igual a era dos Dinossauros. É só comparar o crescimento do e-commerce com o resultado das vendas das lojas físicas. E continuam acreditando que a culpa é da crise.
Quer mais um exemplo?
Pegue um fabricante de um determinado produto qualquer. Calçados, por exemplo. O modelo tradicional desse tipo de negócio prevê que ele fábrica, alguém distribui e o comércio vende.
Todos sabemos que o comércio está em crise, e não por culpa da crise em si, mas por culpa do seu modelo de negócio que ainda não entendeu o consumidor. Essa crise fechou em 2017 mais de 100 mil lojas físicas no Brasil.
Você percebeu que se o dono da fábrica, continuar com o mesmo modelo e processos de negócio ele também vai quebrar? Porque quando um elo da corrente se quebra, essa corrente perde força e utilidade.
É preciso ser disruptivo no modo de pensar e buscar soluções que evitem esse risco.
Mas o que fazer então?
Voltemos ao título desse artigo. Antes de pensar em ferramentas, pense nos cérebros que vão conduzir sua empresa a um novo modelo de negócios.
Pensar de forma disruptiva com as mesmas pessoas que hoje atuam na sua empresa, normalmente envolvidas em tarefas operacionais e repetitivas, sem tempo para pensar, é querer mudar o status quo do negócio, por decreto.
Isso não se consegue com um memorando interno ou uma reunião onde o presidente da organização determina que a partir de hoje, fica instituído um comitê ou grupo de trabalho, para ‘promover” as mudanças necessárias para enfrentar os novos desafios que a Transformação Digital exige.
Isso não vai acontecer por decreto. Só vai acontecer, se a cultura da empresa passar por um processo de transformação, diferente do padrão adotado até agora.
É necessário revisar, de forma transparente e sem deixar o ego dominar, todos os processos da empresa, pois é o futuro do negócio que está em jogo. Não importa quem criou e implementou aquele modelo, que levou a empresa ao sucesso.
O que importa é o que e como irá acontecer daqui pra frente. E “enxergar” de forma eficiente e que possa ser colocado em prática, depende de cérebros, capazes de sugerir mudanças, que tenham conhecimento, autonomia e poder de execução.
O empresário deve investir em pessoas com habilidades de resolver problemas, de forma diferente do usual, questionadoras por natureza, mas que tenham capacidade interpessoal como principal característica de comportamento e saibam explorar sua criatividade para propor coisas novas.
Do contrário, vamos sempre ter alguém na sala de reunião que irá perguntar:
Mas... quem já fez isso? Dessa forma?
Se a resposta for ninguém, tudo vai continuar como sempre.
Vejo isso acontecer dezenas de vezes, nos últimos 20 anos que atuo atendendo empresas de todos os segmentos e tamanhos.
Para isso acontecer, é preciso entender como foi “construída” a Apple, por exemplo, com seu tocador de música que nunca ninguém imaginava que queria ter um, pois não existia nada parecido.
É preciso entender como nasceu o Uber, com um modelo de negócio que resolveu um problema que existia a séculos, mas nunca ninguém havia pensado de forma disruptiva numa solução. Hoje todo mundo fala em “uberização” do modelo de negócios.
Mas como isso se aplica ao seu negócio?
Qual o exercício mental você fez, para avaliar a possibilidade de “uberização” do seu negócio?
Você chamou os mesmos profissionais que atuam na sua empresa, para questionar se o modelo atual ainda funciona?
É o mesmo que perguntar pra essas pessoas, se o trabalho dela ainda serve. Óbvio, que eles vão negar qualquer possibilidade de mudança, pois isso implica em sair da zona de conforto.
Isso significa inclusive questionar a validade da sua função e cargo dentro da empresa e como diz aquela lei: ninguém é obrigado a construir provas contra si mesmo. E tudo vai continuar como sempre.
Gosto de usar outra frase, famosa do filme Tropa de Elite: “O inimigo agora é outro”.
Não culpe a tecnologia utilizada pelas novas empresas, pelos problemas que seu negócio enfrenta hoje.
Não foi o Uber que está matando os taxistas.
Não é o AirBnb que está matando os hotéis.
Não é o e-commerce que está matando as lojas tradicionais.
Não é a crise que está matando sua empresa.
É preciso entender que a tecnologia torna o trabalho de pessoas qualificadas mais valioso e importante.
Quais eram as empresas mais valiosas do mundo há 50 anos?
Eram os fabricantes de produtos, como automóveis, refrigeradores, ar condicionado.
Quais são as empresas mais valiosas hoje?
São aquelas que entenderam que o capital intelectual é que faz a grande diferença. São as empresas que entenderam que com cérebros pensantes, os processos evoluíram e trouxeram novas oportunidades de negócios.
São, inclusive as cidades que descobriram que criar "pólos de inteligência, é a porta para o crescimento das suas receitas.
Quem não deseja conhecer o Vale do Silício?
Quem não quer visitar Portugal, que nos últimos cinco anos, elegeu a tecnologia como principal fonte de geração de renda para suas cidades.
No Brasil, temos cidades que entenderam essa mudança e saíram na frente.
Porto Digital no Recife e Ilha do Silício em Florianópolis, são belos exemplos.
Pensar no passado não vai trazer a solução. É preciso pensar no futuro com a mente aberta para compreender não só os novos modelos de negócios, mas principalmente entender o novo consumidor.
O sucesso da sua nova empresa depende só disso. Entender o novo consumidor, suas necessidades, suas expectativas e como ele quer se comunicar com as marcas.
E seja bem-vindo a Era da Transformação Digital.
Que você esteja preparado para o Tsunami de oportunidades que vem por aí e não acredite que a tempestade vai arrasar tudo.
Artigo original publicado em 15 de abril de 2018 E inspirado na entrevista de Daniel Susskind sobre seu livro “O futuro das profissões”.
Autor: Paulo Kendzerski
Comments